Andreza Matais e Johanna Nublat
A desvalorização do euro ante o real teve uma consequência inusitada nesta semana: professores de três escolas francesas no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília) cruzaram os braços, pedindo ao governo francês reajuste salarial.
A queda no valor da moeda - que chegou a R$ 4 e hoje está em R$ 2,29- deixou cerca de 2.000 alunos sem aulas.
Os docentes, funcionários do serviço público na França, têm duas demandas principais.
Querem aumento de uma espécie de gratificação paga, em euros, aos professores franceses que dão aulas em outros países --os professores alegam que a desvalorização da moeda derrubou o poder aquisitivo dos profissionais.
Além disso, pedem permissão de trabalho para que as mulheres ou os maridos dos professores enviados ao Brasil possam também trabalhar no país.
Segundo um funcionário da escola francesa de Brasília, o reajuste pedido é de 100% no valor da gratificação --que significa 20% do salário líquido do professor. O salário de um docente francês varia hoje de 1.200 a 2.880 euros, de acordo com o funcionário, que preferiu manter o anonimato.
A primeira fase da paralisação das aulas começou na terça e terminou nesta quinta. Há uma nova greve prevista para terça da semana que vem.
A análise das demandas deverá ser feita na segunda, na França, pelo setor responsável pelos professores no exterior, afirmou o conselheiro de imprensa da embaixada, Stéphane Schorderet. Ele acredita que a análise não brecará a greve da semana que vem.
A Folha visitou o Lycée François Mitterrand, em Brasília, e encontrou alunos jogando bola no pátio. Segundo um funcionário do colégio, 95% dos professores da capital pararam. A greve francesa no Brasil mobilizou 80% dos docentes, afirmou Schorderet.
A última greve dos franceses no Brasil foi há sete anos, mas tinha relação com mudanças no método de cálculo da aposentadoria. Os professores franceses também entraram em greve na Colômbia por aumento salarial, encerrada há 15 dias sem muito sucesso.
Pela Constituição da França, os grevistas não podem falar sobre a greve, sob pena de serem demitidos. A legislação francesa prevê que os grevistas têm os salários dos dias parados cortados automaticamente. Existem cerca de 450 escolas francesas pelo mundo.
Folha Online
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