segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Há que se ter um amor imenso por esse trabalho para persistir"



Zília Nazarian, 55 anos, artista plástica






Le "Parkour"
Quando criança até a adolescência estudei pintura, Ballet, teatro e piano. Eu adorava e mergulhava nas aulas. Dos 12 aos 19 houve uma pausa. Aí retornei à dança e ao canto... outra pausa. Aos 36 anos, assistindo ao filme “Camille Claudel”, a arte voltou pra mim de maneira forte na forma da escultura. E aí não houve mais pausas. Hoje, aos 55 anos, agradeço a Deus por ser a escultura parte integrante do meu ser. Não mais poderia viver sem modelar o barro.



Esculpir num país como o Brasil
Infelizmente a Escultura no Brasil não é uma arte muito valorizada. Há que se ter um amor imenso por esse trabalho para persistir. É uma arte onde se investe muito em fundição, o que encarece o produto, dificultando ainda mais a aceitação de modo mais popular. Acho que de maneira geral a arte no Brasil é vista mais como produto decorativo que como uma obra de valor a ser admirada e respeitada por seu conteúdo e seu significado. A Pintura, apesar de também ter as suas dificuldades, tem seu espaço garantido nas paredes das casas, lojas, hotéis,etc. A Escultura requer um espaço preciso, especial, onde ela se mostre por inteiro. Esse é mais um obstáculo encontrado na hora de comercializar uma peça. Na Europa, a Escultura é vista sob outro olhar. Desde pequenas as pessoas já a admiram nos museus e em praças públicas com uma certa reverência. Faz parte do cotidiano delas há séculos. Já os EUA é um país onde a escultura vem merecendo um papel de destaque.



Ser neta de Gaspar Gasparian
Tenho o maior orgulho em ser neta de Gaspar Gasparian. Filho de imigrantes armênios, lutou muito pra se fazer na vida e criar a família. Mas as muitas dificuldades encontradas até se tornar um industrial de sucesso não o impediram de ter na arte seu refúgio e sua forma de expressão mais sentimental. Tive grande incentivo dele para a dança quando criança, ao me dar livros preciosos de fotos de Ballet (Serge Lido, prefaciado por Jean Cocteau)... Também na música ele me estimulou ao me dar um acordeon. Já adulta, como artista, suas fotos me levam ao devaneio e penso que riqueza seria agora poder trocar pensamentos e opiniões com ele. Infelizmente nossa convivência foi curta -12 anos- mas ainda assim muito rica. Seu legado artístico também se ramificou em minhas tias e em meus sobrinhos. A Arte é a expressão humana mais sublime!



L´Exception Française
Minha paixão pela França e sua cultura teve início com minha paixão pela escultura. Uma identidade profunda com esse país brotou em mim ao estudar os escultores e suas obras. Todas as vezes em que estive na França, me senti feliz e ao mesmo tempo melancólica, envolvida com toda aquela cultura que brota em cada esquina. É como se eu sentisse saudades de um certo tempo... Século XIX é onde me realizo porque foi um tempo onde a França produziu artistas absolutamente magníficos! Um tempo onde a emoção era ainda valorizada.Tenho amigos franceses, leio textos franceses e procuro sempre melhorar meu nível nessa língua que amo.


La Bibliothèque du Coeur
Por coincidência, dos livros que já li, os que mais gostei são de dois franceses. Um é de autoria de Romain Rolland, “Jean-Christophe”, escrito em 20 anos. São 5 volumes sobre a vida desse personagem (J-C), compositor alemão que vai viver na França pra tentar comercializar e desenvolver sua música de estilo clássico. Eu achei incrível como o autor descreveu tão bem os sentimentos e percepções de um artista ao longo de sua vida. Tudo o que ele enfrentou pra manter sua música autêntica. A história narra desde o nascimento de Jean-Christophe numa família de pai e avô músicos que viviam num vilarejo da Alemanha, de formação rude, numa sociedade voltada pra si mesma. O avô, por trás da aparência grosseira, tinha um sentimentalismo belo e foi quem primeiro percebeu a vocação do neto.


Outro livro que gostei demais é “Renoir mon père” de Jean Renoir. Foi um livro que me transportou pra família Renoir, seu dia a dia e seus amigos artistas. É uma narração cheia de detalhes do modo de viver desse tempo, contendo muito do pensamento desse artista incrível, Renoir.

Outros autores que indico: José Luis Saorin. Ele tem uma maneira de escrever que faz com que voce “enxergue” os acontecimentos e o melhor, tem uma malícia, um humor maravilhosos; de Rosa Montero li “A Louca da Casa”, muito legal, são passagens da vida de uma escritora e seus devaneios. Leonardo Boff, o teólogo. Seus dizeres são extremamente importantes e verdadeiros. Roberto Freire, “Eu é um outro”, auto-biografia desse psiquiatra que viveu a vida sem limites, intensamente, sem medos. E por último, para não estender demais, “Comer, Rezar, Amar” de Elizabeth Gilbert; é um livro que mostra de maneira leve e gostosa a busca de si mesma da autora pela Itália, Índia e Bali.



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